Detrás do Horizonte

By 8 de novembro de 2015Poesia

Numa noite
em que gritar parecia saída,
elucidei o maior mistério
do lobo que uiva.
Enquanto o sereno baixa
sobre a relva,
e, na escuridão,
movem-se as árvores,
não há tempo que pare as ondas
tampouco problemas
que impeçam a vinda de frentes frias.
Não há tempestade que barre
a morte nem sol
que arremesse certezas…
Numa noite como aquela,
o vento é indiferente.
No céu, jazem estrelas,
que, indiferentes, brilham distantes…
São pedras pesadas que não descem
rumo ao mar,
ainda que sejam fortes as marés
com lua cheia.
São penas que o tempo leva,
são momentos que o tempo guarda.
E o lobo uiva porque reza.
E não lhe parece bastante uivar entre as matas,
senão sobre ponta de pedra
bem pesada,
para, quem sabe, uma multidão
inteira lhe peça silêncio,
sem que possa fazer nada.
Ainda que o minuto da dor termine,
há dor ali que talvez não passe.
E, não fosse pela ponta da pedra,
talvez nem para ele mesmo existisse.

Ensejar uma ponta como essa
é o mesmo que se molhar mais que os outros…
dizendo por todos.
Porém, para quem sobe,
o horizonte sempre estará mais próximo.

Do livro não publicado, de 2006, Na Tribo dos Humanaçús

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