Pelo trem que ainda esperas

By 8 de novembro de 2015Poesia

Se viver os limites é obrigação,
digo que é difícil gostar.
Os limites enquanto obrigação
põem fim ao país que tanto amo,
à viagem que por tanto ensejei,
à noite que poderia durar para sempre.
Os limites enquanto obrigações
machucam o amante em demasia,
furtam aos homens sabedoria,
mudam o valor das coisas.
As palavras são igualmente meu limite,
minha cultura, meus braços…
Os limites enquanto obrigação
denotam que, amanhã, serei mais feliz – dentro de um limite;
e que, por sorte,
talvez já esteja no fundo do poço.
Se os limites então são obrigações,
é porque já não nos respeitamos.
Se viver o limite me é obrigação,
então, talvez, já não queira mais tomar um trem,
porque, enquanto obrigação, os limites não são meus.
Se para o céu o limite não são estrelas,
se para a terra jamais há começo ou final,
por que haveríamos de criar raízes?
Os limites como obrigação
ditam naturalmente quem eu sou
e o que devem esperar todos os dias de mim.
Os limites como obrigação
me levam ao esquecimento daquilo que intrinsecamente quero
– talvez não haja limites para esta dor.
Pena minha vontade não ter limites…
Porque, indistinto às fronteiras que ultrapasso,
é de praxe querer ficar sempre do lado de lá.
Os limites se esquecem de contar que eu existo.

Do livro não publicado, de 2006, Na Tribo dos Humanaçús

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